Barragem
de rejeito em Jacobina: repetição de uma tragédia evitável?
O
crescimento populacional e econômico em Jacobina pode estar relacionado às
atividades auríferas, já que durante o período de maior produção, 1983-1998,
dados do IBGE mostram um alto crescimento da população, sendo 76.518 habitantes
no ano de 1991, 85.185 habitantes no ano de 1996 e 76.492 habitantes no ano
2000. De acordo com os dados acima, houve um notório aumento populacional no
período de maior produção da mina, drástica queda no período em que as
atividades foram paralisadas, manutenção do número de habitantes durante o
hiato da produção aurífera e retomada no aumento a partir do momento em que as
atividades foram retomadas no ano de 2005.
Embora
os dados demostrem que a mineração tem um papel importante na economia da
cidade, não dá pra correr mais esse risco. Os vazamentos das barragens ocorridos
no estado de Minas Gerais nos leva a questionar se esses infelizes episódios
podem ocorrer em outras partes do país.
Segundo
o gerente regional da Agência Nacional de Mineração (ANM) na Bahia, Cláudio da
Cruz Lima, o estado da Bahia possui 14 barragens. O número de barragens da
Bahia é menor que o de Minas (que possui 400 barragens), e conforme a ANM é
possível monitorá-las de uma a duas vezes por ano.
Desde a tragédia ocorrida em Mariana, os moradores de
Jacobina-BA se questionam e ficam amedrontados que algo semelhante possa acontecer
em alguma das barragens da Jacobina Mineração
e Comércio S.A.(JMC) que pertence ao grupo canadense Yamana Gold.
A
JMC tem sua sede e duas barragens de rejeito inseridas bem próximo aos rios
Itapicuru e Canavieiras. Esse mananciais fazem parte da Bacia Hidrográfica do
Itapicuru, um deles apresenta a barragem do Itapicuru que fornece água para
Jacobina-BA e região (Souza 2013).
De acordo com o estudo realizado pelo
geógrafo Vivaldo Souza (2013), a barragem de Itapicuru (primeira barragem) já
atingiu o limite de sua vida útil e foi desativada. Ainda segundo o geógrafo
acima citado, a desativação desse barragem “exige
da JMC cuidados redobrados, pois estão armazenados nesta barragem milhões de
metros cúbicos de rejeito, uma bomba prestes a ser detonada, um acidente
poderia levar este material para os rios, tornando suas águas impróprias para
consumo, com consequências desastrosas para Jacobina e todas as comunidades da
região".
Já
a segunda barragem está próxima dos rios Itapicuru e Canavieiras, e uma a estação
de tratamento da Embasa que fornece água para o município de Jacobina (Souza
2013). Para o especialista em Meio Ambiente
e Recursos Hídricos Almacks Luiz “a
segunda barragem, só tem capacidade para 13 milhões de toneladas de material, o
complexo minerário de Jacobina terá que ter mais 5 (cinco) outras barragens de
rejeito para acumular a quantidade de material declarada pela própria Yamana
Gold em seu NI – 43.101”, explicou.
Podemos evitar que aconteça em Jacobina o que
aconteceu em Brumadinho e Mariana?
Segundo
a ANM, todas as barragens do estado tem risco potencial de provocar um acidente
sério, caso não tenham manutenção e monitoramento permanente. Em 2015, após o
desastre ocorrido em Mariana, as barragens de Jacobina foram avaliadas e
consideradas de risco. Mas de acordo com a ANM, a empresa responsável fez uma
manutenção e melhoria nas instalações, tornando a situação dessas barragens
estáveis.
Mesmo
que as barragens de Jacobina sejam consideradas estáveis é extremamente
importante que as empresas responsáveis mantenham contato com a população, expliquem
onde estão localizadas as barragens e como são construídas, bem como os órgãos
governamentais exijam o licenciamento ambiental feito de forma técnica,
eficiente e com ações de monitoramento.
Fontes:
Jacobina: técnicos analisam situação da barragem de rejeitos da Yamana
Gold. Disponível em: http://sertaobaiano.com.br/noticia/jacobina-tecnicos-analisam-situacao-da-barragem-de-rejeitos-da-yamana-gold.
Acesso 26 de janeiro de 2019.
Barragens de rejeito da Yamana Gold em Jacobina, por Almacks Luiz Silva.
Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2015/11/12/barragens-de-rejeito-da-yamana-gold-em-jacobina-por-almacks-luiz-silva/.
Acesso 26 de janeiro de 2019.
Especialistas repercutem o rompimento da barragem em Brumadinho. Disponível
em: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2019/01/25/ambientalistas-repercutem-o-rompimento-da-barragem-em-brumadinho.ghtml.
Acesso 28 de janeiro de 2019.
Monitoramento de barragens de rejeitos será intensificado na Bahia após
tragédia em Minas Gerais. . Disponível em: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2019/01/26/monitoramento-de-barragens-de-rejeitos-sera-intensificado-na-bahia-apos-tragedia-em-minas-gerais.ghtml.
Acesso 28 de janeiro de 2019.
IBGE. Disponível em: http://cod.ibge.gov.br/17X7. Acesso 28 de janeiro
de 2019.
SOUZA, V. A. Impactos Socioambientais Causados pela Nova Barragem de
Rejeito da Jacobina Mineração e Comércio no Município de Jacobina – Ba. Trabalho
de Conclusão de Curso, Departamento de Ciências Humanas, DCH, Campus IV da
Universidade do Estado da Bahia.UNEB. Jacobina, Bahia, 2013.